Apresentador estreia como roteirista e produtor em filme que tenta ‘honrar Rocky Balboa’ e falar de autismo. Marcos Mion em ‘MMA – Meu Melhor Amigo’
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Marcos Mion emprestou sua experiência de pai atípico para Max Machadada, o protagonista do filme “MMA – Meu Melhor Amigo”, que estreia nesta quinta-feira (16) nos cinemas.
No filme, o apresentador faz o papel de Max, homem que é pai de um menino autista. Mion criou o personagem a partir de memórias que ele compartilha com filho, Romeo, que também tem o transtorno do espectro autista. Ainda assim, o longa não se trata de uma autobiografia.
Com pinta egocêntrica, Max é um lutador de MMA muito famoso que acaba descobrindo ser pai de Bruno (Guilherme Tavares), de oito anos. Revelação que muda drasticamente sua vida, pondo o atleta diante de vários desafios da paternidade atípica.
“Tudo o que eu faço tenho o propósito de inserir uma conscientização do autismo”, afirma Mion ao g1, em entrevista. “Mas obviamente o Max não tem nada a ver comigo, e eu não vivi a grande maioria das coisas que o ele vive com o Bruno.”
“A gente fez questão de fazer uma cena muito realista, em que o Max ameaça ir embora porque ele não consegue mais lidar com isso. É uma coisa que nunca passou pela minha cabeça, mas a gente tem que representar a realidade da esmagadora maioria dos pais, que vão embora. Essa é tristemente a realidade do nosso país.”
O filme é o primeiro trabalho de Mion como roteirista e produtor. Para o papel do lutador, o ator se submeteu a uma intensa rotina de treinos e dieta. A ideia era ficar simplesmente com o mesmo corpão de Sylvester Stallone em “Rocky IV”. Depois de adquirir o shape — como ele chama o perfil físico que adiquiriu —, o apresentador conversou com o americano e recebeu elogios pelo trabalho.
As cenas de luta foram dirigidas por Will Leong, coreógrafo que trabalhou em filmes como “Matrix” e “Independence Day”. E quando a temática em foco era o autismo, houve consultoria de profissionais autistas especializados no assunto.
Veja a seguir a entrevista completa com Mion.
Marcos Mion em ‘MMA – Meu Melhor Amigo’
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g1 – Mion, como e por que você decidiu criar esse filme? Eu esperava avidamente por um convite para fazer um grande filme, mas esse convite nunca veio. Aí eu tive que arregaçar as mangas e fazer meu próprio filme. Era uma vontade de muito tempo. Ter um filme para ter uma mensagem que perdure. A maioria das formas artísticas é muito efêmera, mas o cinema não, né? As pessoas assistem ao filme do começo até o fim.
Eu sou um cara muito obstinado pelo legado, pelo que vou deixar com a minha vida dedicada ao entretenimento e à arte.
g1 – Como foi fazer tudo isso pela primeira vez? Aprender o que, como e com quem desenvolver o filme… Foram muitas primeiras vezes. Eu chegava no set, que é gigante, e via caminhões, muita gente em volta. Daí pensava: ‘Que loucura, isso tudo está mesmo acontecendo em cima da ideia que eu tive’.
Uma loucura. É muito maluco contracenar com o Antônio Fagundes, ser dirigido pelo José Alvarenga, ver essas grandes empresas apostando no filme. São muitas primeiras vezes, e todas são muito mágicas.
Eu estou aqui divulgando o meu primeiro filme e isso só vai acontecer uma vez, porque o próximo que eu fizer vai ser diferente, né? Então eu tento saborear cada uma dessas experiências, me entregando ao máximo naquilo que faço.
Até agora, fizemos algumas pré-estreias e tem sido muito enriquecedor. O retorno do público foi muito mais mágico do que podia imaginar. Vi que as pessoas realmente ficaram muito tocadas com a história.
Marcos Mion em ‘MMA – Meu Melhor Amigo’
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g1 – O filme trata do autismo, mais especificamente sobre questões ligadas à paternidade atípica. Assim como você, o protagonista da história é pai de um garoto autista. Até que ponto vão essas semelhanças entre Mion e Max? E as diferenças? É muito importante deixar claro que não é um filme autobiográfico. Não é sobre a minha relação com o Romeu, meu filho.
É um filme que tem um pilar do autismo, porque tudo o que eu faço tenho o propósito de inserir uma conscientização do autismo. Mas esse é um filme que tem vários pilares, camadas. Tem gente que chega e fala: “Que legal você fazer um filme sobre luta”. Outras pessoas dizem: “Você fez um filme sobre paternidade”. Também ouço: “Muito legal ver a luta das personagens contra o câncer”.
São várias camadas que vão tocar individualmente o coração de cada uma das pessoas. O autismo é uma delas. Pessoalmente, acho essa a mais importante pelo meu propósito, pela história com meu filho e por tudo o que eu acredito.
Algumas situações que vivi com Romeu eu emprestei para o Max viver com o Bruno. O arco narrativo do Max Machada é o de um cara que tem valores errados e começa a entender que todo seu sucesso não significa nada se ele não conquistar o amor do próprio filho. Um filho autista fez uma chave virar nele. Figurativamente, essa também é a minha história. Então, se há alguma identificação entre nós, seria essa. Mas obviamente o Max não tem nada a ver comigo, eu não vivi a grande maioria das coisas que o ele vive com o Bruno.
A gente quis tratar a comunidade autista e a paternidade atípica de forma genérica. Por exemplo, a gente fez questão de fazer uma cena muito realista, em que o Max ameaça ir embora porque ele não consegue mais lidar com isso. É uma coisa que nunca passou pela minha cabeça, mas a gente tem que representar a realidade da esmagadora maioria dos pais, que vão embora. Essa é tristemente a realidade do nosso país.
g1 – Qual a importância de envolver profissionais autistas no desenvolvimento do filme? É muito importante. Se é um filme que, de certa forma, representa a comunidade autista no cinema, ele tinha que ter autistas fazendo parte. Tinham autistas na equipe, na consultoria. Tinha uma especialista autista em praticamente todas as cenas que o Guilherme Tavares fez… Eu vivo o autismo de 19 anos, mas eu não sou autista. Então, foi muito importante nesse processo envolver pessoas autistas em várias camadas diferentes.
Marcos Mion em ‘MMA – Meu Melhor Amigo’
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g1 – Qual foi exatamente a uma mudança de rotina que você fez para dar vida a esse porte físico do Max? O meu maior desafio ali é que eu tinha que honrar o “Rocky Balboa”. Se eu fiz um filme de luta, eu tenho que honrar quem me fez, me criou. Eu sou cria de “Rocky Balboa”, é a minha Bíblia. Então, pensei: “Quero o físico do ‘Rocky IV’.”
Parece loucura, mas eu queria muito que o Sylvester Stallone sentisse orgulho disso. Mandei pra ele as fotos do meu shape de Max, e ele respondeu dizendo que foi muito impressionante o que fiz com meu corpo. Então, ter esse aval foi algo gigantesco que eu nunca poderia imaginar. Eu contei para ele sobre a história do filme e o desenvolvimento da luta final. Ele respondeu: “Esse é o tipo de filme que gosto de assistir e acredito”. É o maior aval que eu poderia receber.
Foi muito difícil assim. Eu já tinha experiência nesse processo de praticamente ‘zerar’ a gordura do corpo para outros trabalhos como fisiculturista, mas nunca segurei isso por dois meses. Treinei em horários difíceis, nunca abandonei a dieta. Eu não comia mais manga, nem um pouquinho porque se eu ensinasse para o meu cérebro que não teria problema, poderia virar um hábito. Desistir vira hábito. Eu sabia que não podia falhar. Até poderia ter feito de forma mais amena, mas optei pela forma mais radical.
Eu comecei a preparação física 150 dias antes da filmagem. Quando faltavam 20 dias para o início, eu já estava pronto para atuar como Max Machadada. No réveillon, brindei com água. Depois da filmagem, eu mantive a rotina por dois meses mantendo.
g1 – E quanto a experiência do pós-filme, como você pretende reagir? É do tipo de pessoa que fica olhando críticas negativas e elogios sobre o filme? Com todo respeito do mundo, as críticas e os elogio não me interessam.
O que me interessa é como esse filme bate no coração das pessoas, toda empatia criada, toda identificação com o público. O que me interessa é o que vi nas pré-estreias: centenas de mães chorando, crianças autistas se sentindo representadas. Isso tudo não é um elogio. São histórias, empáticas e divididas através dessa obra de arte.
g1 – A cineasta Camila Rizzo acusou o filme de plagiar o curta-metragem ‘Headway’, escrito e produzido por ela em 2018. Ela chegou a acionar a Justiça, mas não teve nenhuma vitória até agora. Como você encara essa acusação? O caso não foi pra frente. Todas as tentativas dela de impedir o filme foram indeferidas pelo juiz.
Falar na imprensa qualquer um pode, mas provar na Justiça é bem mais complicado.
g1 – O Romeu assistiu ao filme? Ele ainda não assistiu. Vou fazer uma sessão para ele ver com os amigos dele.
Mas ele entendeu todo o processo, acompanhou tudo. Ele sabe que é um filme que conta a história de um pai com filho autista. Ele também entendeu que não é a minha história com ele. Ele está muito ansioso para assistir, até porque as pessoas do nosso ciclo comentam com ele.
O Romeu é meu grande parceiro da vida assim, a minha maior fonte de inspiração, e ele sabe disso.