Casal suspeito de deformar rosto de cliente após procedimento estético é indiciado por lesão corporal gravíssima e estelionato no Paraná


Exame indica que substância desaconselhada para estética foi aplicada na paciente que denunciou caso à polícia. Defesa nega acusações e diz que procedimento foi adequado, sem qualquer imprudência. Raquel Roseli Demichei Dornelles ficou com o rosto deformado após procedimento estético
Arquivo pessoal
O farmacêutico Tiago Tomaz da Rosa e da esposa dele, a médica Carolina Milanezi Bortolon Rosa, foram indiciados pela Polícia Civil por lesão corporal gravíssima e estelionato por suspeita de deformarem o rosto da paciente Raquel Roseli Demichei Dornelles após um procedimento estético.
Dornelles afirma que procurou a Clínica Revive em 2023 para fazer “Sculptra”, procedimento para estimular produção de colágeno na pele. No entanto, ela alega que o farmacêutico aplicou no rosto dela polimetilmetacrilato (PMMA). A substância foi indicada por um exame de biópsia contratado pela vítima. Relembre mais abaixo.
Segundo o Conselho Regional de Farmácia (CRF-PR), o PMMA é uma substância sintética aprovada para uso médico em casos específicos, como cirurgias reparadoras, e desaconselhada para fins estéticos, pelo alto risco de complicações, como inflamações, infecções e deformidades permanentes
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Além destes crimes, o farmacêutico também foi indiciado, ao fim do inquérito policial que apurou o caso, por exercício ilegal da medicina. O caso foi encaminhado ao Ministério Público do Paraná, que acompanha o caso e deve decidir se oferecerá ou não denúncia do caso à Justiça.
Após a denúncia de Raquel, outras duas pacientes também procuraram a polícia que abriu novo inquérito contra o casal para apurar possíveis crimes de coação no curso do processo, lesão corporal gravíssima e exercício ilegal da medicina.
Em nota, a defesa de Tiago e Carolina informou que com relação ao caso da paciente Raquel, que a mesma assinou um termo de consentimento “estando ciente das possíveis reações adversas” e que a denúncia é falsa e difamatória. A nota diz ainda que o procedimento foi adequado, sem qualquer imprudência, negligência ou imperícia por parte do profissional.
Veja manifestação completa da clínica sobre o caso
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) informou que fiscalizou a clínica Revive em setembro do ano passado e identificou a suspeita do uso de PMMA pelo farmacêutico. O CRM disse ainda que a médica pode ser advertida e até impedida de exercer a medicina.
O Conselho Regional de Farmácia não se manifestou até esta publicação.
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Dores, alergias e medicamentos: o procedimento
Raquel ficou com o rosto permanentemente deformado após procedimento
Arquivo pessoal
Raquel conta que demorou cerca de 9 meses para entender que haviam feito um procedimento diferente do qual ela tinha contratado.
“No início tinha muita dor. Eu comecei a ter várias alergias. Eu não podia mais me olhar no espelho. Eu eu passei por um médico psiquiatra, para tomar remédio. Nem meu marido me aguentava, porque eu me olhava no espelho, eu me achava feia. Eu quase me separei”, contou Raquel ao g1.
Segundo ela, durante o procedimento relatou ao farmacêutico que estava sentido muita dor. No entanto, ele disse a ela que era um sintoma comum do “Sculptra”.
Em casa, a dor não passou, e Raquel começou a notar que rosto estava inchando, momento que decidiu procurar a clínica novamente.
Ela afirma que, na clínica, foi medicada, e que Tiago disse novamente a ela que o inchaço era comum e fazia parte do procedimento.
Raquel alega ainda que, no local, era medicada pela esposa do farmacêutico, a dermatologista Carolina Milanezi Bortolon Rosa, que dizia a ela que os efeitos colaterais eram resultados de uma alergia.
Segundo ela, até aquele momento, ainda acreditava que se tratava de efeito colateral do procedimento que havia contratado e tinha a esperança que o corpo absorvesse a substância aplicada, como o esperado nas utilizações de “Sculptra”.
“Eu continuei indo porque ele falou: ‘Raquel, você teve um processo diferente. Vai gerar mais colágeno’. Eu continuei inchando e eu pensei: ‘Daqui a um ano, meu corpo vai absorver e vai voltar ao formato normal'”, lembra a vítima.
Após não ver melhoras, a empresária decidiu procurar atendimento dermatológico especializado. O médico que a atendeu suspeitou do produto usado e pediu para ela realizar um exame de biópsia, que indicou a presença de PMMA no rosto da paciente.
Fiscalização constatou irregularidades na clínica, diz conselho
Em setembro, motivados pelo relato feito ao Ministério Público, o Conselho Regional de Farmácia e o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) realizaram uma inspeção na Clínica Revive.
Segundo o CRF, durante a inspeção, a equipe constatou diversas irregularidades, incluindo a utilização do PMMA.
O órgão afirmou ainda que a Clínica Revive já foi alvo de outras denúncias envolvendo práticas inadequadas e possíveis violações de normas sanitárias.
O g1 questionou o CRF sobre quais denúncias foram essas, quando elas foram feitas e se elas foram acompanhadas pelo conselho. No entanto, o órgão não respondeu às perguntas.
O CRF disse também que está conduzindo uma análise detalhada da denúncia, para garantir uma apuração completa e transparente, e que as medidas necessárias sejam tomadas.
Outra cliente relata problemas
Ferida cicatrizada nos glúteos da cliente
Arquivo Pessoal
Após a história de Raquel repercutir na internet, ela foi procurada por outras mulheres que alegam terem tido problemas após passarem por procedimentos na Clínica Revive.
Uma delas, que preferiu não ter a identidade revelada, contou ao g1 que passou por uma necrose da pele dos glúteos após se submeter a um procedimento na clínica em 2021.
Ela conta que, assim como Raquel, havia contratado o “Sculptra”. No entanto, depois de passar pela clínica, começou a sentir dores, não conseguia sentar e teve vazamento de pus e sangue nas feridas que ficaram abertas por conta do procedimento feito.
A cada problema que surgia, a vítima retornava a clínica, onde era medicada pelo casal.
Ela relata que, quando a situação estava mais crítica, Tiago a levou ao consultório de um amigo cirurgião plástico, que se recusou a tratar a paciente por conta da complexidade do caso. Para ela, foi este momento que notou a gravidade da situação.
“Ali eu fui acordando. Eu acho que eu estava ‘dormindo’, eu estava anestesiada de tudo aquilo. Não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, e eu me culpava”, conta.
A situação impactou a relação com o marido, familiares e amigos.
“Eu não sabia para onde correr. Eu não queria expor, falar isso pra família. Não deixei meu marido ver, falava que estava tudo certo, e isso causou muito problema no nosso relacionamento, ficou bem conturbado. Psicologicamente, nem se fala. Até hoje eu uso medicamento psiquiátrico para poder olhar para mim, lembrar que eu estou viva. Estou vivendo um dia após o outro”, desabafa.
O caso da mulher agora também é investigado no novo inquérito.
Entenda o que é o PMMA
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